Um dos debates mais interessantes na História da astronomia opôs duas visões distintas em relação à forma de organização do Universo: o Heliocentrismo e o Geocentrismo. Dois modelos cosmológicos opostos que geraram muita controvérsia.
Afinal do que se trata o heliocentrismo e geocentrismo? De forma resumida podemos dizer que o heliocentrismo (ou teoria heliocêntrica) é o modelo que defende que o Sol está no centro do Sistema Solar (ou segundo outro ponto de vista, no centro do Universo). No lado oposto, o geocentrismo (ou teoria geocêntrica) é o modelo que defende que a Terra está no centro do Sistema Solar (ou no centro do Universo).
O geocentrismo foi um modelo cosmológico aceito na antiguidade de forma quase unânime. Nessa época já o ser humano se interessava pelo céu e observava os movimentos do Sol, da Lua, dos planetas e das estrelas. Todos os objetos celestes pareciam mover-se ao redor de uma Terra imóvel. Intuitivamente, o ser humano assumia que a Terra era o centro do Universo. Isso não é de estranhar pois, por razões práticas, ainda nos dias atuais frequentemente falamos do movimento das estrelas no céu, apesar de sabermos que esse movimento aparente é provocado pela rotação da Terra.
Assim, na antiguidade, a teoria geocêntrica era aceite por quase todos. Um dos mais destacados defensores dessa visão do mundo foi o famoso filósofo grego Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.). Mais tarde, o astrónomo Cláudio Ptolomeu (cerca 90 d.C. – 168 d.C.) viria a dar a forma final ao modelo geocêntrico, que acabaria por servir de referência ao longo dos muitos séculos que se seguiram. Este sistema por vezes também é chamado de sistema ptolomaico.
Para Cláudio Ptolomeu a Terra estava no centro do Universo, e à sua volta orbitavam os corpos celestes em suas respetivas esferas. Com a Terra ao centro, Ptolomeu “colocou” os corpos celestes na seguinte ordem (do mais próximo ao mais distante): Lua (mais próximo da Terra), Mercúrio, Vénus, Sol, Marte, Júpiter, Saturno e por fim as estrelas. Este sistema geocêntrico foi defendido por Ptolomeu na sua grande obra chamada de Almagesto.
Na antiguidade houve exceções a esta visão do mundo. O astrónomo Aristarco de Samos (310 a.C – 230 a.C.) defendeu a teoria que na realidade era a Terra que orbitava em volta do Sol, e não o contrário. Tal ideia foi praticamente esquecida por cerca de 1800 anos, salvo poucas exceções, tendo sido seriamente retomada apenas no séc. XVI pelo astrónomo polaco Nicolau Copérnico.
Nicolau Copérnico (1473 – 1543) viria a dar um grande contributo em defesa do sistema heliocêntrico. Em 1543, logo após a morte de Copérnico, foi publicado o seu livro “De revolutionibus orbium coelestium” (em português, “Das revoluções das esferas celestes“). Este livro foi um marco na História da astronomia. Nele está a defesa de um modelo cosmológico em que o Sol tem uma posição central. Porém, algumas décadas antes, já Copérnico tinha escrito a sua obra de nome “Commentariolus“, onde já apresentava a sua ideia sobre o heliocentrismo.
Para Copérnico o Sol tinha uma posição central. À volta do Sol circulam os planetas na seguinte ordem (do mais próximo ao mais afastado): Mercúrio, Vénus, Terra e a Lua, Marte, Júpiter, Saturno, e depois situavam-se as estrelas fixas. A Terra assim possuía um movimento de translação e um movimento de rotação, para além disso Copérnico também defendeu que o eixo da Terra tinha uma inclinação. No sistema de Copérnico, as estrelas fixas estavam muito mais distantes da Terra que o Sol.
Apesar da teoria apresentada por Nicolau Copérnico ter algumas erros, sem dúvida que foi fundamental para o surgimento da astronomia moderna. Outros astrónomos que se seguiram aperfeiçoaram o modelo heliocêntrico de Copérnico, como foi o caso do astrónomo Johannes Kepler e também de Galileu Galilei.
Johannes Kepler (1571 – 1630) defendendo a teoria heliocêntrica, apresentou 3 leis do movimento planetário chamadas de Leis de Kepler:
– 1ª Lei: Todos os planetas se movem em orbitas elípticas tendo o Sol como um dos focos.
– 2ª Lei: Uma linha unindo um planeta ao Sol varre áreas iguais em períodos de tempo iguais.
– 3ª Lei: O quadrado do período de qualquer planeta em torno do Sol é proporcional ao cubo da distância média entre o planeta e o Sol.
Galileu Galilei (1564 – 1642), viria a dar um grande contributo na defesa do heliocentrismo. Galileu realizou importantes observações astronómicas através do então recém-inventado telescópio. Apesar da qualidade dos telescópios utilizados por este astrónomo ter sido bastante limitada, as descobertas feitas por intermédio deste instrumento óptico foram excecionais para a época. Algumas dessas descobertas reforçaram a validade da teoria heliocêntrica, como é o caso da constatação do facto de Vénus apresentar fases semelhantes às da Lua, situação essa que poderia ser explicada se o sistema heliocêntrico estivesse correto.
O heliocentrismo encontrou muita resistência até ser aceite pela comunidade científica. Isso não é de estranhar pois o geocentrismo dominou o pensamento filosófico e científico durante muitos séculos. Alguns astrónomos tiveram problemas com a Igreja Católica, como foi o caso de Galileu Galilei. Porém Galileu sempre se apresentou como cristão, defendendo a veracidade das Sagradas Escrituras. Galileu respeitava e aceitava a Bíblia como verdadeira, Galileu apenas estava em desacordo quanto à interpretação da Bíblia que a Igreja Católica fazia naquela época. Para a Igreja daquela época, o heliocentrismo estava em desacordo com a Bíblia. Galileu, que acreditava na Bíblia, não estava de acordo com essa interpretação da Igreja. Mais tarde, a própria Igreja Católica acabaria por aceitar o heliocentrismo.
Heliocentrismo e geocentrismo, dois modelos do Sistema Solar opostos entre si. Do confronto entre estas duas visões, o heliocentrismo acabaria por levar a melhor.